sábado, 9 de março de 2013

Vandalismo e punições

Segunda-feira, 25 de fevereiro
Punições
Só pra lembrar, já que não toquei nesse assunto antes: na quarta-feira passada o glorioso Corinthians Paulista, campeão mundial interclubes, foi jogar na Bolívia pela Taça Libertadores da América. Enfrentava o time do San Jose, na cidade de Oruro, empatando por 1x1. O resultado foi o menos importante. O detalhe que assustou foi a morte de um torcedor local, um menino de apenas 14 anos. Ele foi vitimado por um sinalizador (acho que é daquele tipo que provocou o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria) que teria sido acionado por um membro da torcida corintiana presente ao estádio.
O episódio provocou forte revolta entre os bolivianos. Doze pessoas da torcida paulista foram detidas e ainda se encontram presas na Bolívia. Estão à disposição das autoridades policiais e judiciárias daquele país que estão investigando o ocorrido, à procura do verdadeiro criminoso.
Paralelamente, a Conmebol, a entidade que administra o futebol sulamericano, puniu o Corinthians, ordenando que todas as partidas do time pela Libertadores, com mando de campo corintiano, sejam jogadas com portões fechados, isto é, sem torcedores presentes. A punição, é claro, desagradou profundamente aos dirigentes brasileiros, pois representa um enorme prejuízo financeiro. A fúria atinge não só os dirigentes, mas também a mídia esportiva paulistana, que brada pela redução da pena. Interessante notar que os cronistas que berram pela descriminalização do Corinthians são os mesmos que clamam por “rigor nas punições” quando ocorrências infelizes são registradas fora dos limites do Estado de São Paulo. Ocorreu assim em 2009, quando jornalistas paulistas vociferaram por “drásticas medidas” contra o Coritiba por causa da invasão do campo no fim do Campeonato Brasileiro daquele ano. Alguns deles chegaram a sugerir que o time coxa-branca fosse definitivamente alijado do esporte brasileiro.
Paralelamente à punição ao clube paulista, os doze presos na Bolívia temem pelo seu futuro. Enquanto não for encontrado o verdadeiro autor da “façanha”, eles continuarão atrás das grades e nada indica que as autoridades bolivianas sejam mais ágeis que as brasileiras quando se trata de investigar delitos criminais. Ou seja, correm sério risco de passar uma longa temporada vendo o sol nascer quadrado.
Eu, particularmente, tenho certa simpatia pelo Corinthians. Afinal, foi o clube pelo qual torci quando menino e adolescente. Eu morava em Maringá, cidade do Norte do Paraná, onde todos os moradores ligados no futebol torciam (a maioria ainda torce) por times paulistas. Eu já me sentia coxa-branca, mas devido a ausência de notícias do alviverde curitibano, acabei entrando na onda dos maringaenses e também escolhi um time paulista para torcer: foi o Corinthians.
Independentemente das minhas preferências esportivas, penso que a punição ao Corinthians foi justa. Como também foi justa a punição ao Coritiba em 2009. Na verdade, essas penas servem principalmente de exemplos. Enquanto não conseguirmos civilizar os nossos torcedores não teremos a almejada paz nos estádios. E sempre fica difícil levarmos nossos filhos aos estádios sem passar pela agonia de uma eventual tragédia.
Agora, a torcida corintiana achou um bode expiatório. Seria mais exato dizer “cabrito expiatório”, pois se trata de um jovem de 17 anos, inimputável pelas leis brasileiras. Ele deverá ser apresentado como o verdadeiro culpado pela soltura do sinalizador que vitimou o infeliz menino boliviano. Provavelmente as leis da Bolívia também protegem os menores de 18 anos, de forma semelhante às brasileiras. Mas não sei se as autoridades bolivianas vão engolir a patranha, pela sua evidência. E mesmo que a justiça boliviana decida por uma libertação imediata dos presos, nada garante que eles venham a ganhar as ruas tão cedo. É que os delegados de lá parecem ser meio analfabetos e demoram um tempão para ler e entender as decisões judiciais.
Por sua vez, o clube vai aproveitar para pedir a sua (do clube) absolvição no episódio alegando não ser responsável pelo comportamento de um torcedor. Pode ser que a comebola engula o embrulho, mas vai depender muito do recheio.
Vandalismo
Mal tinha eu acabado de redigir o comentário acima, vejo a notícia de que 60 pessoas, aproximadamente, ficaram feridas em consequência de atos de vandalismo de torcedores de futebol nas ruas de Curitiba, inclusive com depredação de ônibus do transporte coletivo e de terminais de passageiros. Em Curitiba, ontem, foi jogado o “clássico” do futebol local, entre Coritiba e Atlético Paranaense, o tradicional Atle-Tiba (Coritiba, 2x1).
Os causadores desses episódios não são torcedores, nem do Coritiba e nem do Atlético Paranaense. Torcedor de futebol, amante do esporte, não faz esse tipo de coisa. Trata-se de vândalos, simplesmente. Animais selvagens, criminosos, na verdade. Lugar de criminoso é na cadeia. E de animal é na jaula.
Não são fatos isolados, mais uma vez. Já aconteceram em outras oportunidades, em outros lugares e vão se repetir novamente, ainda não se sabe aonde porque ninguém tem bola de cristal e nem sabe como invocar o espírito do Nostradamus. No ano passado, se a velha memória ainda me ajuda, foi assassinado um torcedor do Palmeiras numa rua, em Zambaulo, por torcedores do Corinthians. No Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em algumas Capitais do Nordeste também houve casos parecidos.
É preciso um basta. Certamente será preciso criar uma lei especial, tipificando essas condutas criminosas, e se tem de ser feita, que seja feita, e logo. Essa providência faz parte da revisão do rascunho da realidade brasileira, antes que isso que está aí seja passado a limpo. Aliás, tem coisa que nem pode ser passada a limpo. O sangue incrustado não sai sem deixar vestígios.
Fuga
Mais uma que vem do Paraná: mais de sessenta presos fugiram da cadeia do 7º Distrito Policial de Londrina, no Norte do Estado. Outros criminosos, sete no total, fortemente armados (incluindo estilingues de longo alcance, segundo informações extraoficiais), simplesmente entraram no presídio, dominaram a situação e, sem acordar os policiais de plantão, abriram as portas das celas e boralá, moçada! Eram cerca de sete horas da tarde/noite de domingo. Parece que uns trinta foram recapturados hoje de manhã, mas esses poderiam até ficar soltos porque, palermas desse jeito, não poderiam representar perigo para a população.
É sempre a mesma história. A capacidade total da carceragem é de 27 presos. Estava com 97. Perceberam a diferença? Pois é, agora, quem é o culpado? Quem vai se responsabilizar pela presença de uns trinta criminosos que deveriam estar presos, soltos nas ruas de Londrina. Dentre eles, uns sete de alta periculosidade.
Outra questão: como é que um bando armado entra numa Delegacia de Polícia e faz e desfaz o que bem entende? Não tem policiais, não tem guardas, não tem esquema de segurança?
Se não sabem como guardar uma Delegacia é melhor perguntar pros bandidos.
Veadagem
O Conclave que elegerá o Papa sucessor de Bento XVI terá mais um desfalque além  daquele cardeal francês que havia pedido para não participar por problemas de saúde. Baixa então para 115 o número de eleitores antes habilitados, pois o cardeal Keith O’Brien, da arquidiocese de St. Andrews e Edimburgo, na Escócia, renunciou ao cargo nesta segunda-feira e assim desabilitou-se para participar da eleição Papal.
O motivo da renúncia foi a acusação de três padres e de outro ex-religioso da referida diocese escocesa, da prática de “atos impróprios” – assim a Igreja classifica as ocorrências – cometidos por O’Brien há mais de trinta anos. A revelação teve forte repercussão na imprensa sensacionalista britânica, em especial no jornal The Observer. As denúncias indicam que o cardeal teria mantido relações homossexuais com os colegas religiosos aproveitando-se da vida em comum típica dos mosteiros. Em verdade lhes digo: o velho O’Brien, no alto dos seus 74 anos de idade, com o seu semblante circunspecto e severo, as suas imaculadas vestes clericais... é uma baita bichona. Além disso é um tremendo traíra, pois sempre combateu os homossexuais, posicionando-se firmemente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e também contra a adoção de crianças por casais de gays. Por sua postura, ele conquistou a repulsa geral dos coleguinhas britânicos, mas mesmo assim seria o único representante da Grâ Bretanha no Conclave eleitoral, isso porque a Igreja Anglicana (que não reconhece a autoridade do Papa) predomina maciçamente em todo o Reino Unido.
Acuado pelas denúncias publicadas no Observer, O’Brien, já no domingo, deixou de rezar a missa habitual na diocese de Edimburgo. Pelo jeitão das coisas, esse cardeal parece que não reza já faz muito tempo.

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